sábado, 29 de outubro de 2011

PESQUISA NO POÇO ENCANTADO - Chapada Diamantina/Bahia

                                                                                                         Fonte: Viaje Aqui

                                                          


                                                                                                                   Fonte: Jornal A Comarca

A exploração foi realizada pelos paleontólogos da PUC de Minas Gerais, Mauro Chagas. Castor Cartelle Guerra, De Iuliis  e mergulhadores.

Foram retirados do fundo do Poço Azul quatro esqueletos de preguiças gigantes (ermotherium) num sítio do município de Nova Redenção, “na Chapada Diamantina e levados para o museu da PUC em Belo Horizonte, Minas Gerais.

A notícia é do documentário “O Brasil da Pré-História” e saiu na SINAPSE da Folha de S. Paulo com fotos de Daniel Carneiro em 10/07/2005 e foi produzido um vídeo pela GRIFA MIXER sob a direção Maurício Dias e Túlio Schargel.

O geólogo Ivo Karmann do Instituto de Geociências da USP acompanhou os trabalhos dos pesquisadores da megafauna brasileira.

Entretanto os órgãos competentes do governo da Bahia, nem secretários estaduais ou municipais foram comunicados de tal fato.
 
                                             NOTÍCIA

Terra de gigantes: Paleontólogos e documentaristas se unem para recriar as preguiças terrícolas que dominaram o Brasil Central.


Esqueleto praticamente completo desse bicho de cinco toneladas é o achado que mais chama a atenção numa caverna da Chapada Diamantina, no interior da Bahia – mas nem de longe é o mais significativo, Reinaldo José Lopes escreve de Lençóis, Bahia, para a “Folha de SP”:
Com as mãos ainda meio empapadas de sedimento úmido, o paleontólogo Cartelle Guerra mal consegue conter um sorriso malandro ao mostrar aos visitantes o tesouro que vem amealhando depois de algumas semanas de escavação.
“Essa aqui ainda era de menor”, diz, errando de propósito no português, “e provavelmente era uma linda menina.”
Um desavisado provavelmente ia coçar a cabeça em total incredulidade diante de uma frase dessas: afinal, a expressão “de menor” se refere a um úmero (o osso do antebraço) ridiculamente maciço, com 1,5 m. E a “mocinha” em questão é uma preguiça gigante.
Mauro Chagas, colega de Cartelle na PUC/Minas e curador de paleontologia de mamíferos no museu da instituição, logo explica a piada.
As extremidades dos ossos do bicho (que devia ter uns 4,5 m de comprimento e várias toneladas quando vivo) ainda não estavam totalmente soldadas quando ele morreu – ainda havia tecido cartilaginoso na ponta, o que significa que a “garota” ainda estava em fase de crescimento antes de partir desta para uma melhor.
Talvez atingisse os 6 m pelos quais sua espécie, a Eremotherium laurillardi, é famosa.
Um esqueleto praticamente completo desse bicho de cinco toneladas é o achado que mais chama a atenção entre os feitos pelos pesquisadores numa caverna da chapada Diamantina, no interior da Bahia – mas nem de longe é o mais significativo.

Cartelle, Chagas e seus colegas estão tirando do Poço Azul, como é conhecido o sítio do município de Nova Redenção, um verdadeiro zoológico brasileiro da Era do Gelo.
São quatro espécies só de preguiças gigantes –duas das quais devem ganhar novas denominações científicas graças aos fósseis da gruta, afirmam os pesquisadores.
Além da reviravolta científica, a equipe também é a estrela de um documentário atualmente em produção, “O Brasil da Pré-História – Expedição Preguiça Gigante” (leia texto na próxima página).
Com os novos achados do Poço Azul e as reconstruções digitais da criatura que o filme incluirá, tudo indica que esses animais majestosos serão trazidos de volta à vida com um grau de detalhe sem precedentes.
Embora nem uma só espécie tenha sobrado para contar a história hoje, as preguiças gigantes, ou terrícolas (de hábitos terrestres), como também são chamadas, são um dos grupos mais diversificados e bem-sucedidos entre os mamíferos das Américas.
Aliás, pode-se dizer que são produto genuinamente nacional (ou, pelo menos, sul-americano), já que evoluíram no Brasil e nos países vizinhos quando a América do Sul ainda era um continente-ilha.
Dos primeiros registros fósseis no Eoceno (há 50 milhões de anos), o grupo foi crescendo em tamanho e variedade.
Durante o lento processo geológico no qual a América Central surgiu, formando uma ponte entre a América do Sul e a América do Norte, os mamíferos dos dois continentes participaram de um gigantesco troca-troca, o chamado Grande Intercâmbio Faunístico, cujo auge aconteceu há uns 3 milhões de anos.
Não há prova mais clara dessa versatilidade evolutiva do que a “escadinha” de preguiças tirada do Poço Azul pela equipe.
Da grandalhona Eremotherium, com volume (“embora não as proporções do corpo”, ressalva Cartelle) de um elefante africano moderno, chega-se à relativamente diminuta Nothrotherium, que tinha o tamanho de uma ovelha e não passava dos 50 kg.
A “escadinha” também inclui duas espécies com dimensões intermediárias, entre um boi e um burro modernos, que estão sendo revistas por Chagas, Cartelle e seu colega canadense Gerry De Iuliis, da Universidade de Toronto.
O conjunto é uma boa amostra da fauna do cerrado no fim do Pleistoceno (a Era Glacial, que se encerrou há apenas 10 mil anos) e está acompanhado de mais dez espécies extintas e modernas já recuperadas do Poço Azul.
Os tamanhos variados também são um indício de estilos de vida diferentes, embora todos os bichos fossem herbívoros lentos e pacíficos.
Em geral, vagariam pelo chão, sobre quatro patas, mas seriam capazes de ficar eretas com a ajuda da cauda.
As grandes garras do Eremotherium ajudariam na defesa e para arrancar galhos e folhas das árvores.
Cartelle afirma que uma das espécies “redefinidas” pelos achados deverá pertencer ao gênero Valgipes, enquanto a outra ainda deverá ser definida com as descobertas na chapada, entre elas as mãos e os pés do bicho.
A vantagem é que a definição de espécie se torna mais abrangente e confiável do que costumava ser nos tempos heróicos (bem, não tão heróicos) da paleontologia.
”Antigamente, era mania você sair dando nome a qualquer ossinho. Isso não está mais com nada”, debocha Cartelle. A mania, aliás, chegou a produzir alguns momentos no mínimo bizarros.
Basta dizer que a espécie Valgipes deformis foi originalmente batizada, nos idos de 1864, com base num único calcâneo (osso do pé), que ainda por cima era considerado deformado (daí o nome de espécie do bicho em latim).
As mandíbulas praticamente completas de Eremotherium vindas do poço azul também ajudam a mostrar porque as preguiças estavam entre os herbívoros mais bem-sucedidos de seu tempo.
Os dentes, enormes e sem esmalte, cresciam sem parar e tinham raiz aberta.
Os de cima, em formato de cunha dupla, se encaixavam exatamente nos de baixo, formando a plataforma ideal para prensar vegetais –principalmente grama, na opinião de Cartelle.
Depois de vasculhar a bancada, Chagas volta com outro tesouro: o martelo e a bigorna, ossinhos do ouvido médio do bicho.
São os ossos definidores de todos os mamíferos, já que não existem entre os répteis – e a prova de que a “mocinha” era parente de um certo Homo sapiens. 
                             
                                 (Reinaldo José Lopes viajou a Lençóis, Bahia, a convite      da produtora Grifa Mixer) - Folha de SP, Mais!, 10/7.


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