JORGE S MARTINS
O fato que aqui narro aconteceu numa pequena cidade do interior de SP quando, eu, como tutor, dava as últimas explicações para o encerramento de um Curso Normal Superior de dois anos promovido pela UNIARARAS, ali realizado e destinado a capacitar 50 professores do ensino fundamental.
Ao final da aula, Rita Leite, jovem professora-aluna do curso, que sempre se mostrava interessada e questionava a eficácia de estratégias a usar para motivar discipulos em sala de aula, chegou-se a mim, meio tímida, disse:
- Professor Jorge, posso lhe fazer um pedido?
Depois de tudo que o senhor nos repassou neste curso quero convidá-lo a visitar nossa escola e a ver as experiências que nela estamos pondo em prática.
Meio surpreso, mas com muita alegria, aceitei o convite e para lá fui no dia marcado durante o expediente escolar.
Era uma simples escola suburbana, de quatro salas, além das demais dependências e boa área livre ao redor com brinquedos.
Ao entrar na sala de Rita, em meio ao costumeiro zum-zum escolar, saudei a criançada com um “Bom dia” que uníssona respondeu ficando em pé.
Notei que esta turma estava dividida em vários grupos separados, ao redor de mesinhas e pedi para continuarem a trabalhar.
Logo uma menina veio cumprimentar-me e ao lhe perguntar o que estavam fazendo, e para meu espanto explicou:
- “Estamos trabalhando num projeto sobre a água. É o tema geral que já programamos para este mês.
Como é assunto que preocupa a todo mundo no momento, continuou a pequena, cada grupo da classe escolheu e encarregou-se de aprofundar o conhecimento de um aspecto da água daquela lista feita pela professora, apontando para um painel pendurado na parede.
Depois cada equipe vai apresentá-lo à turma com recortes, dados, ilustrações e explicações sobre as novidades que descobriu.
Fiquei admirado, pois sem mais detalhes, a garotinha resumiu como se trabalha com projetos.
E concluiu: “a professora Rita interessou-nos por este grande bem da natureza que é a água, e motivou-nos a preservá-la mais, e por isso sorteou estes assuntos pelos grupos, sendo o nosso o No 2” .
Os temas eram:
1 – àgua em estado líquido;
2 – àgua em estado sólido;
3 – àgua em estado de vapor;
4 – àgua em estado quente ou termal;
5 – água como fonte de energia;
Perguntei à menina se todos os colegas sabiam pesquisar e como eles procuravam dados sobre esses assuntos.
A resposta estava na ponta da língua.
- “Tio, veja, nossa escola é pobre, não temos biblioteca, nem laboratórios, mas a profa. Rita sempre traz livros, revistas e jornais para ler, recortar e desenhar, explicou ainda, e cada grupo deve entrevistar pessoas entendidas, fazer anotações do que encontrar no material juntado na sala, resumir programas da TV.
Além disso, ela dá-nos tempo, ajuda e ensina a fazermos algumas experiências simples em sala, ou mesmo fora da escola.”
A garotinha pareceu-me muito esperta e saiu-se muito bem nas explicações que dava e nas respostas ao que eu lhe perguntava.
Comovido parabenizei-a, como também a professora Rita, dizendo-lhe que fatos desses envaidecem o professor e o ajudam a vencer todas as dificuldades que encontra na profissão docente.
Passei por todos os grupos, questionei e observei como os alunos estavam interessados e gostavam de fazer o trabalho de pesquisa.
A professora Rita disse-me que se entusiasmara com um Roteiro de Aula fora da escola que eu tinha explicado no Curso e quis pô-lo em prática e mostrou-me um quadro na parede com programação de outras atividades extra-classe que realiza com seus alunos, uma por semana :
- Aula de campo para estudar vegetais, animais e insectos.
- Saída para a fonte de água potável no barranco da estrada.
- Visita à capela de S. Roque e aula de Catecismo.
- Saber tudo de música na casa do violeiro da comunidade.
- Conhecer um estábulo de gado e como é feito o queijo caseiro.
Achei o trabalho de Rita extraordinário pelas maneiras como ela motiva seus alunos e lhes dá informações úteis para a vida sem ficar escrava de currículo escolar, nem de programação oficial imposta . Isso é educar.
Ela não aceita os métodos da escola antiga, quer sair do trabalho rotineiro de sala de aula, quer programar oportunidades para estimular nos alunos a criatividade e a imaginação que fazem surgir iniciativas individuais e inéditas neles com as quais poderão tornar-se agentes ativos e co-participantes de sua formação pessoal e no crescimento de seus conhecimentos, pelo uso de projetos de pesquisa.
Para corrigir os equívocos educacionais existentes, a professora pôe em prática procedimentos pedagógicos eficientes, por vezes esquecidos ou ignorados destinados a mobilizar as habilidades e as potencialidades dos alunos, pelo planejamento e organização de atividades que objetivem envolvê-los em grupos, promovendo desta forma a interatividade, a discussão e parcerias na realização do trabalho escolar e extra-escolar.
Rita utiliza os projetos como estratégias didáticas escolares para facilitar ao aluno ter contato com fatos que deve investigar os quais podem se tornar desafios à curiosidade dos componentes da equipe, provocando assim:
- o surgimento de discussões e debates entre eles conforme seus saberes prévios;
- a formulação de suposições ou hipóteses sobre aquilo que pensam ser, mas não têm certeza;
- a descoberta de outros caminhos para resolver problemas, ou chegar a soluções inéditas;
- a satisfação e alegria em descobrir e como contornar desafios e conflitos de idéias.
Qualquer projeto, por mais simples que seja, se for bem conduzido pelo professor, será capaz de aguçar o interesse do aluno se estiver relacionado significativamente à realidade em que ele vive e envolver suas observações diárias.
Este exemplo mostra bem como uma professora preparada é capaz de mobilizar a curiosidade, a inteligência, as habilidades e todo o potencial de interesse de uma turma de alunos tornando-os centros ativos de sua própria formação.
Acredito que eles, não só gostarão de estudar com projetos, como não esquecerão jamais as pesquisas que realizaram e as descobertas que fizeram dando-lhes mais conhecimentos além do que já sabiam.
O gosto pela descoberta do novo é uma coisa que alegra os alunos e aquilo que aprenderem por esse processo não esquecerão jamais, além de ficarem estimulados a investigar mais e mais para saber melhor.
Como é lindo ver a alegria dos pequenos cientistas ainda em formação quando trazem para a escola o produto de alguma de suas pesquisas!!