sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ENSINAR COM PROJETOS DE PESQUISA


                                   JORGE S MARTINS

                                
O fato que aqui narro aconteceu numa pequena cidade do interior de SP quando, eu, como tutor, dava as últimas explicações para o encerramento de um Curso Normal Superior de dois anos promovido pela UNIARARAS, ali realizado e destinado a capacitar 50 professores do ensino fundamental.

Ao final da aula, Rita Leite, jovem professora-aluna do curso, que sempre se mostrava interessada e questionava a eficácia de estratégias a usar para motivar discipulos em sala de aula, chegou-se a mim, meio tímida, disse:
- Professor Jorge, posso lhe fazer um pedido?
Depois de tudo que o senhor nos repassou neste curso quero convidá-lo a visitar nossa escola e a ver as experiências que nela estamos pondo em prática.

Meio surpreso, mas com muita alegria, aceitei o convite e para lá fui no dia marcado durante o expediente escolar.
Era uma simples escola suburbana, de quatro salas, além das demais dependências e boa área livre ao redor com brinquedos.
Ao entrar na sala de Rita, em meio ao costumeiro zum-zum escolar, saudei a criançada com um “Bom dia” que uníssona respondeu ficando em pé.

Notei que esta turma estava dividida em vários grupos separados,  ao redor de mesinhas e pedi para continuarem a trabalhar.
Logo uma menina veio cumprimentar-me e ao lhe perguntar o que estavam fazendo, e para meu espanto explicou:
- “Estamos trabalhando num projeto sobre a água. É o tema geral que já  programamos para este mês.
Como é assunto que preocupa a todo mundo no momento, continuou a pequena, cada grupo da classe escolheu e encarregou-se de aprofundar o conhecimento de um aspecto da água daquela lista feita pela professora, apontando para um painel pendurado na parede.
Depois cada equipe vai apresentá-lo à turma com recortes, dados, ilustrações e explicações sobre as novidades que descobriu.

Fiquei admirado, pois sem mais detalhes, a garotinha resumiu como se trabalha com projetos.
E concluiu: “a professora Rita interessou-nos por este grande bem da natureza que é a água, e motivou-nos a preservá-la mais, e por isso sorteou estes assuntos pelos grupos, sendo o nosso o No 2”.
Os temas eram:
1 – àgua em estado líquido;
2 – àgua em estado sólido;
3 – àgua em estado de vapor;
4 – àgua em estado quente ou termal;
5 – água como fonte de energia;

Perguntei à menina se todos os colegas sabiam  pesquisar e como eles procuravam dados sobre esses assuntos.

A resposta estava na ponta da língua.
         - “Tio, veja, nossa escola é pobre, não temos biblioteca, nem laboratórios, mas a profa. Rita sempre traz livros, revistas e jornais para ler, recortar e desenhar, explicou ainda, e cada grupo deve entrevistar pessoas entendidas, fazer anotações do que encontrar  no  material juntado na sala, resumir programas da TV.
Além disso, ela dá-nos tempo, ajuda e ensina a fazermos algumas experiências simples em sala, ou mesmo fora da escola.”

A garotinha pareceu-me muito esperta e saiu-se muito bem nas explicações que dava e nas respostas ao que eu lhe perguntava.
Comovido parabenizei-a, como também a professora Rita, dizendo-lhe que fatos desses envaidecem o professor e o ajudam a vencer todas as dificuldades que encontra na profissão docente.

Passei por todos os grupos, questionei e observei como os alunos estavam interessados e gostavam de fazer o trabalho de pesquisa.

A professora Rita disse-me que se entusiasmara com um Roteiro de Aula fora da escola que eu tinha explicado no Curso e quis pô-lo em prática e mostrou-me um quadro na parede com programação de outras atividades extra-classe que realiza com seus alunos, uma por semana :
         - Aula de campo para estudar vegetais, animais e insectos.
         - Saída para a fonte de água potável no barranco da estrada.
         - Visita à capela de S. Roque e aula de Catecismo.
         - Saber tudo de música na casa do violeiro da comunidade.
         - Conhecer um estábulo de gado e como é feito o queijo caseiro.

Achei o trabalho de Rita extraordinário pelas maneiras como ela motiva seus alunos e lhes dá informações úteis para a vida sem ficar escrava de currículo escolar, nem de programação oficial imposta . Isso é educar. 
Ela não aceita os métodos da escola antiga, quer sair do trabalho rotineiro de sala de aula, quer programar oportunidades para estimular nos alunos a criatividade e a imaginação que fazem surgir iniciativas individuais e inéditas neles com as quais poderão tornar-se agentes ativos e co-participantes de sua formação pessoal e no crescimento de seus conhecimentos, pelo uso de projetos de pesquisa. 

Para corrigir os equívocos educacionais existentes, a professora pôe em prática procedimentos pedagógicos eficientes, por vezes esquecidos ou ignorados destinados a mobilizar as habilidades e as potencialidades dos alunos, pelo planejamento e organização de atividades que objetivem  envolvê-los em grupos, promovendo desta forma a interatividade, a discussão e parcerias na realização do trabalho escolar e extra-escolar.

Rita utiliza os projetos como estratégias didáticas escolares  para facilitar ao aluno ter contato com fatos que deve investigar os quais podem se tornar desafios à curiosidade dos componentes da equipe, provocando assim:
- o surgimento de discussões e debates entre eles conforme seus saberes prévios;
- a formulação de suposições ou hipóteses sobre aquilo que pensam ser, mas não têm certeza;
- a descoberta de outros caminhos para resolver problemas, ou chegar a soluções inéditas;
- a satisfação e alegria em descobrir e como contornar desafios e conflitos de idéias. 

Qualquer projeto, por mais simples que seja, se for bem conduzido pelo professor, será capaz de aguçar o interesse do aluno se estiver relacionado significativamente à realidade em que ele vive e envolver suas observações diárias.

Este exemplo mostra bem como uma professora preparada é capaz de mobilizar a curiosidade, a inteligência, as habilidades e todo o potencial de interesse de uma turma de alunos tornando-os centros ativos de sua própria formação.
Acredito que eles, não só gostarão de estudar com projetos, como não esquecerão jamais as pesquisas que realizaram  e as descobertas que fizeram dando-lhes mais conhecimentos além do que já sabiam.
O gosto pela descoberta do novo é uma coisa que alegra os alunos e aquilo que aprenderem  por esse processo não esquecerão jamais, além de ficarem estimulados a investigar mais e mais para saber melhor.
Como é lindo ver a alegria dos pequenos cientistas ainda em formação quando trazem para a escola o produto de alguma de suas pesquisas!!

domingo, 14 de agosto de 2011

ENSINAR POR PROJETOS

ENSINAR POR PROJETOS
                               Prof. Jorge S. Martins

O sucesso da aprendizagem por projetos está condicionado ao interesse que o professor conseguir despertar no aluno por este trabalho, incentivando-o e valorizando-o como pequeno pesquisador e descobridor e desta forma poderá tornar-se capaz de entender e explicar aquilo que pesquisou.

Contudo, para isso acontecer, é preciso que o professor reconheça que há necessidade de mudanças de atitudes, de renovação corajosa no uso de novos procedimentos didáticos em sala de aula.
Ele terá de optar por novo estilo docente, ou melhor dizendo, pelo “reaprender a ser professor”, acostumar-se, em suas atividades a procurar ver mais longe, estar a atento às mudanças que o mundo de amanhã exigirá  dos seus alunos.

Tem de acreditar que “a meta principal da escola atual não deve ser só  repassar conteúdos disciplinares fragmentados aos alunos, mas deve ser a de atualizar seu ensino de maneira global interdisciplinar para desenvolver e explorar as competências deles”.

Acreditando nestes conceitos, sentirá o professor necessidade de capacitar-se mais e melhor, pois as realidades atuais exigem outra orientação no ensino e na aprendizagem.
Norteadas por esse princípio, muitas escolas já vêem renovando seus métodos de tratar o aluno, não como mero espectador e receptor passivo das informações que lhe são transmitidas e incutidas, mas, sobretudo  orientando-os a se tornarem participantes ativos da própria formação.

Todos sabemos que os jovens de hoje, levados pela contingência da modernidade na qual estão integrados, tudo fazem para procurar novos estímulos que excitem suas emoções e, como nem sempre as alcançam, ficam inquietos e ansiosos, agitam-se e perturbam, fazendo mesmo o que não deveriam.
O racional, o pensar não os atrai, pois exigem esforço, o que eles não querem, nem gostam de fazer e por isso fazem das salas de aula verdadeiros campos de discussões estéreis, atribuindo a culpa de toda essa problemática ao professor.

Infelizmente a muitas escolas falta o hábito de sair do trabalho rotineiro de sala de aula e programar oportunidades para estimular nos alunos a criatividade e a imaginação que fazem surgir iniciativas individuais e inéditas com as quais eles poderão tornar-se agentes ativos e co-participantes de sua formação pessoal e do crescimento de seus conhecimentos.

Para corrigir essas deficiências educacionais existentes, a escola precisa pôr em prática procedimentos pedagógicos eficientes, por vezes esquecidos ou ignorados destinados a mobilizar as habilidades e as potencialidades dos alunos, planejando  e organizando atividades que objetivem envolvê-los em grupos, promovendo desta forma a interatividade e parcerias na realização do trabalho escolar e extra-escolar.

Esta é uma atribuição específica dos Projetos de pesquisa escolar que não exigem, necessariamente, o envolvimento de pessoas de diferentes áreas, mas sim, exigem ter uma visão global no tratamento do tema escolhido, pelo intercâmbio e integração de saberes disciplinares diversos, a ele  relacionados.

O Projeto de pesquisa escolar, sendo uma construção pedagógica, deverá, portanto, ser entendido como conjunção de múltiplos meios, que concorrerão no fornecimento de mais saberes e darão suporte à sua validade educacional.

A idéia de trabalhar com Projetos, quase sempre resulta da preocupação que os professores têm de pôr em prática procedimentos didáticos que favoreçam a participação mais ativa dos alunos e facilitem o processo interativo voltado para a busca do saber.

Entre esses procedimentos usados pelo ensino renovado, o mais importantee significativo é preceder a realização de tarefas por “questionamentos” que conduzam os alunos a refletir sobre o “por quê” e o “como” vão fazê-las.
Trata-se de estimular e desenvolver neles “o senso crítico”, que se  desenvolve pela leitura, pela reflexão, pela prática do debate com o uso e coerência de argumentos, pela curiosidade intelectual que não se satisfaz com simples conversa ou informação, mas examina focos múltiplos, e pelo questionamento para levantar dúvidas e esclarecê-las.

O “por quê?” deverá  estar sempre em qualquer situação de ensino, para que o aluno seja instigado a perguntar e a procurar por ele mesmo a resposta, cabendo ao professor apenas, portar-se  como condutor da ação de aprender.
Desta maneira o processo ensino/aprendizagem toma rumo diferente na escola, tanto em relação ao professor, - aquele que facilita o ensino, - como em relação ao aluno, - aquele que aprende ou constrói seu saber -.
Convém, pois, reconhecer que a essência de qualquer projeto de pesquisa encontra-se no desencadeamento da reflexão em torno da utilização de perguntas corretamente elaboradas e adequadas, uma vez que elas têm uma dimensão cognitiva que deve ser explorada pelo professor, tanto para satisfazer o desejo do aluno de saber mais, quanto para aferir e diagnosticar  o aprendizado dos conteúdos estudados.


O professor que pretende trabalhar com Projeto de Pesquisa na escola  deverá acreditar que vai usar um instrumento didático valioso destinado a melhor dominar e aprofundar o conhecimento de assuntos temáticos variados, os quais poderão  interrelacionar disciplinas curriculares diferentes.

Que assuntos temáticos são esses?  Podem ser os que visam:
- à explicação de alguma situação-problema e ensino que preocupa,
- ao melhor conhecimento de fatos da realidade vivida pelos alunos,
- a aprofundar a investigação de assuntos curriculares a estudar,
- à realização de algum produto final, como feira, artefato, exposição.

A metodologia dos Projetos visa sobretudo preparar os alunos para o futuro, pelo saber como estudar e pelo aprender a aprender praticados nas tarefas que lhe são exigidas.
O sucesso da aprendizagem por projetos estará condicionado ao interesse que se conseguir despertar no aluno, valorizando-o como pequeno pesquisador, descobridor e expositor do que aprendeu sob a condução do professor.

Lembremo-nos que a matéria-prima da educação “é o aluno”, o qual por sua vez é também seu “produto final”.
O processo de transformação dessa matéria está nas mãos do professor, na maneira como por ele será manipulado e nas diversas etapas que conduzirão guiado sempre pelo “para quê” de seu trabalho pedagógico.

O importante é reconhecer que há necessidade de mudanças de atitudes, de renovação corajosa e da busca de novos procedimentos didáticos uma vez que tudo isso implica em optar por novo estilo docente, ou melhor dizendo, pelo “reaprender a ser professor”.
Precisará o docente a acostumar-se, em suas atividades a ver mais longe, estar a atento às mudanças que o mundo de amanhã exigirá  dos atuais alunos e, sobretudo,em perceber que
 “a meta principal da escola não deve ser o desenvolvimento do aluno pelo ensino e domínio de conteúdos disciplinares fragmentados, mas, sobretudo o desenvolvimento de suas competências pessoais”.

domingo, 7 de agosto de 2011

Resenha do livro "Redação Publicitária: Teoria e Prática" do Professor Jorge S. Martins



O manual "Redação Publicitária: Teoria e Prática" (1997), do professor
Jorge S. Martins, merece destaque por ser um dos poucos escritos com
fundamentação nas pesquisas em lingüística e semiótica, dirigidas contra
as chamadas improvisações de linguagem, em capítulos como “Evolução
da linguagem publicitária” e “Origem da força
 da linguagem publicitária”.

Além de ser uma fonte de consulta e orientação, considerada mais atual
e consistente por Vianna, também faz parte do pequeno número de
livros sobre o tema que descreveu a história da publicidade no Brasil,
ainda que em consonância com os acontecimentos tidos como oficiais
apenas no país e com o desenvolvimento dos meios de comunicação,
à parte da “história do mundo” ou de outros elementos quaisquer. É o
que fica patente em partes como “Antecedentes históricos” e “Fases da
publicidade brasileira”.

Os demais manuais de publicidade destacados no meio acadêmico, ou
não tratam especificamente de linguagem e historicidade, como Tudo
que você queria saber sobre propaganda e ninguém teve paciência para
explicar (1989), em que é apresentada a atividade nos departamentos e
alguns casos de propagandas famosas; ou, quando tratam de linguagem
e historicidade, o fazem menos detidamente, sem recurso aos estudos
de lingüística e semiótica, por exemplo, como Teoria, técnica e prática da
propaganda (1973). Já os códigos de ética sobre a atividade publicitária
não mencionam especificamente a historicidade da publicidade brasileira,
mas sim o tema da linguagem, como nos pontos II e III da parte “O código
de ética dos profissionais da propaganda”, n’A Legislação da Propaganda;
nos parágrafos 2°-Alegações e 6°-Nomenclatura, Linguagem, “Clima”,
do Artigo 27, na Seção 5-Apresentação Verdadeira, do Código Brasileiro
de Auto-Regulamentação Publicitária; e no parágrafo 1° do Artigo 37, na
Seção III-Da Publicidade, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

Compreendo então política de língua à maneira de Eni Pulcinelli Orlandi,
ou seja, como a manifestação do discurso declarado, segmentado como
oficial, e o efetivamente aceite ou praticado, em relação a outros possíveis

que não foram evidenciados porque correspondem a outros recortes,
constructos teóricos possíveis, relações de sentido em descontinuidade
linear ou causal na história das idéias tornadas oficiais.

Tal política lingüística pode ser avaliada com base no manual de Jorge
S. Martins, mestre em lingüística e semiótica pela Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, instrutor de cursos de língua portuguesa e redação,
com experiência profissional na área de publicidade na Bahia, em 1997.
Se neste manual a política de língua diz respeito à historicidade da
publicidade brasileira às voltas com o purismo da linguagem e com a
ética da profissão, é possível inferir que tanto ele quanto os códigos
sustentariam a suposição da transparência da língua ou de uma realização
efetiva da comunicação. Hipótese que, com a análise da historicidade
da publicidade no manual selecionado e da veracidade em propaganda
nos códigos mencionados, não procede quando se trata da atividade
publicitária. Isto, porque cada efeito de sentido produzido no público é
antes um “mal entendido bem sucedido”, no dizer de Lacan. Do consumo
à indignação, nunca haveria, assim, o reconhecimento de uma verdade a
priori, unívoca, universal, absoluta e, portanto, impossível de haver senão
construída historicamente.

No que concerne ao purismo lingüístico, este é compreendido como
a perspectiva dos estudiosos para os quais o texto publicitário deve
preservar a norma culta da língua portuguesa, rejeitando as expressões
populares e os estrangeirismos como empecilhos da comunicação das
mensagens textual e visual, para um suposto público mais simples,
ignorante.

Martins, por exemplo, é um dos que defende a correção da linguagem nas
mídias impressa e eletrônica. Para ele, deve haver o “uso moderado de
erros” inseridos nos “hábitos lingüísticos do registro coloquial”, a fim
de “produzir determinados efeitos” de sentido, da persuasão ao consumo.
Por outro lado, entendo que há uma perspectiva não purista em relação à
linguagem publicitária, verbal e não-verbal, como o uso de expressões
populares e estrangeiras, sem prejuízo para a produção de sentido mais
adequada, útil. Sobre isso, concordo com Roberto Menna Barreto,
publicitário e antigo professor na Escola de Comunicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, para quem: “Desmistificar-se é perder o medo,
(...) duvidar profundamente de todas as regras e partir para o caso real,
específico, e sua solução”.

Quanto ao que é prescrito nos manuais e códigos, e o que ocorre nos
anúncios brasileiros, por exemplo, menciono a crítica de José Luiz Fiorin,

lingüista e professor na Universidade de São Paulo, dirigida ao projeto de
lei de Aldo Rebelo, deputado federal paulista do Partido Comunista do
Brasil. Em entrevista concedida à jornalista Eliane Azevedo, para o Jornal
do Brasil, em março de 2002, Fiorin afirma que o projeto que prevê multas
para os estrangeirismos, sobretudo no que se refere à produção e
publicidade de bens e serviços, não passa de nacionalismo xenófobo, um
equívoco político do deputado. Assim, o que seria o principal problema
lingüístico decorrente da assimilação de termos estrangeiros, uma
possível “dificuldade de comunicação para o homem simples do povo”,
antes caracterizaria uma espécie de preconceito quanto à capacidade
imediata de aprendizagem de palavras novas por parte da população
brasileira. Contudo, Fiorin também propõe uma política de proteção do
português menos vaga que aquela do projeto do deputado. Além disso,
ele admite a tentativa da hegemonia da língua norte-americana no país e
em boa parte do mundo supostamente globalizado em termos de
economia, embora associe mais o uso do inglês aos shoppings e à
informática no país, afirmando que “...quando uma parte do léxico passa a
ser importante para uma pessoa, ela aprende...”. Afinal, contrariando a
crítica purista endereçada à linguagem textual na publicidade, os
estrangeirismos, sobretudo os atuais norte-americanos, não seriam
insuficientes para caracterizar uma dificuldade de comunicação do
público simples, uma vez que parecem contribuir sincronicamente para a
garantia de um efeito de sentido oportuno e intensificado ou
diacronicamente para a inevitável reelaboração do léxico pelos homens? É
o caso de vocábulos “aportuguesados” ou não, como xampu e diet, entre
outros difundidos, por exemplo, através de propagandas.

Em relação ao tema da historicidade, considero a história produzida como
oficial em relação aos eventos que lhe deram um corpo e não outros, ou
seja, como uma “posição resolutamente historicista”, no dizer de Sylvain
Auroux, ou melhor, sem pensar a história da publicidade no Brasil
como “uma questão de origem e esperar dela a explicação do que existe”,
como assinala Paul Henry. Procuro então compreender a historicidade da
nossa publicidade à semelhança do que afirma Michel Foucault, a partir
da “genealogia do poder” que se opõe à suposta condição da história
como exterioridade, espécie de ente que, de uma posição imaginariamente
privilegiada determinaria sentidos e finalidades para os eventos. Martins,
em seu manual de redação publicitária, subdivide então a história da
publicidade em três momentos: de 1808 a 1891, de 1891 até por volta da
primeira metade do século XX, e da segunda metade do século XX aos
dias de hoje.

Contudo, Martins parece vincular o advento da publicidade a datas e

eventos históricos nacionais e internacionais tomados como oficiais. Ele
destaca na primeira fase, por exemplo, o advento da imprensa no país,
os reclames ilustrados com charges e fotografias que imitavam o modelo
francês, anunciando escravos e outras “peças”, além da fundação da
Empresa de Publicidade e Comércio.

Na segunda fase, ele cita a contribuição inicial de intelectuais brasileiros
(escritores, poetas, artistas, jornalistas) e a expansão das mídias
eletrônicas (rádio, cinema, televisão), bem como a introdução de houses,
agências no estilo americano.

Já na terceira fase, Martins ressalta a profissionalização brasileira, por
contrato externo ou vínculo com agências e a consolidação de cursos de
publicidade. Mas, por que não pensar tal historicidade menos por uma
melhoria técnica em termos de imprensa (1ª fase), intelectuais (2ª fase) e
profissionais (3ª fase), e mais por um contágio com outros elementos?
Valeria uma pesquisa sobre a relação com a arte impressionista, as
litogravuras, a fala dos “brasileiros” (1ª fase); a linguagem das novas
mídias além da impressa (rádio, cinema, televisão na 2ª fase); e o caso da
legitimação dos cursos de publicidade, e da linguagem das propagandas
na multimídia da Internet (3ª fase). Aliás, nessa última fase em que
vivemos, os publicitários passam a exportar a técnica da publicidade para
a ex-colônia portuguesa e para o mercado espanhol.

Concordando com Dominique Maingueneau, concebo então prática
discursiva como a materialidade da linguagem publicitária, e considero
prática não discursiva como a expressão social ou institucional da
publicidade. Mas amplio essa compreensão para uma
perspectiva “microfísica”, no dizer de Foucault, quando relaciono o efeito
de sentido nos anúncios elaborados à não relação necessária com uma
verdade natural nem previamente concebida.

Nesse sentido, o próprio Martins dedica partes de seu manual para
defender a preservação de nossa língua, como “Vamos preservar a língua
nossa de cada dia”, e para o ensino de “Como aproveitar clichês” com
base em ditados populares, ou da “Ambigüidade e polissemia” para
um presumido enriquecimento do sentido das mensagens. De modo
algum ele se pergunta sobre a inevitável dispersão da significação nas
propagandas em que os publicitários tentam contornar as características
nocivas de alguns produtos, por exemplo, como bebidas ou cigarros.
Paradoxalmente, nenhum apelo à veracidade das mensagens verbal e
visual parece ser claro nesses casos, em detrimento das advertências
nos códigos, confirmando a hipótese da não transparência da linguagem
publicitária.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

É PRECISO RENOVAR A ESCOLA

As inúmeras e contínuas descobertas e novidades que acontecem no campo da Ciência e da Tecnologia, têm contribuído para se pensar em uma nova visão da escola destinada a preparar as atuais gerações para atuarem num mundo em constantes mutações.
Diante dessas perspectivas, pergunta-se:
- Que tipo de escola pretende-se organizar ?
A resposta que brota, de imediato à mente, pode ser enunciada de maneira simples: 
- a sociedade de hoje necessita da escola que seja:      
                   - responsável pelo seu papel;
                   - planejada de maneira técnica;
                   - dinâmica capaz de envolver o aluno;
                   - centrada na aprendizagem e não no ensino.

Esta nova escola terá como finalidades essenciais conseguir a aquisição do conhecimento pelos alunos a partir:
           - daquilo que eles já sabem, isto é de seus conhecimentos prévios;
       - do que é programado e o professor supõe que eles precisam aprender;
        - de  processos que ensinem a pesquisar para melhor aprender;
          - do uso de métodos que levem o aluno a aprender a pensar e refletir.

Mas para se ter esta escola, será preciso aceitar e implantar propostas dereformulação e renovação da metodologia tradicional.
Deverá ser uma renovação que vise à formação integral do aluno, a trabalhar com ele: 
                - no  que deve saber e que faz parte (dos conteúdos curriculares);
         - no que deve saber fazer e estudar (os conteúdos procedimentais);
                - no que deve ser (os conteúdos atitudinais e normas a assumir).

Nada mais aconselhável para atingir todas estas metas do que incrementar o ensino através de “projetos de trabalho”, nos quais as relações entre conteúdos e áreas do conhecimento serão efetivadas por meio de atividades. (CEAP, n.24).

Os projetos são formas agradáveis de organização de trabalho escolar que busca conhecimentos através da realização de pesquisas a serem desenvolvidas pelos alunos para que eles possam  estabelecer a relação entre teoria e prática.

Projetos investigativos de trabalho, ou de pesquisa, são propostas pedagógicas, interdisciplinares, compostas de atividades a serem executadas pelos alunos, sob a orientação do professor e destinadas a estimulá-los a criar situações de aprendizagem mais dinâmicas e efetivas, pelo questionamento e a reflexão  sobre o objeto de estudo.

Os projetos contribuem para que os alunos participem e se envolvam em seu próprio processo de aprendizagem e compartilhem com outros colegas, como também exijam que o professor enfrente desafios de mudanças, diversificando e reestruturando, de forma mais aberta e flexível, os conteúdos escolares.

Esta maneira de trabalhar torna o ensino mais dinâmico pelo desenvolvimento de novas atitudes dos alunos e do uso de outras estratégias, por parte do professor.      



O projeto investigativo é aquilo que alguém se propõe realizar por meio da pesquisa de forma bem explicitada e bem estruturada em etapas, prazos, com metodologia, estratégias, hipóteses, observação, análise, comprovação e deduções, para alcançar determinados resultados.



Pode ser uma proposta interdisciplinar para utilizar temas transversais a explorar.

Convém não lembrar que objetivo primordial de qualquer projeto escolar é aaprender a estudar de maneira significativa pela busca de informações e chegar à aprendizagem por descoberta, isto quer dizer é aprender a estudar de maneira diferente.
Trabalhar com projetos representa o espírito renovador da escola.
Os projetos, como estratégias de aprendizagem, transformam os alunos em criadores e construtores de sua formação, uma vez que fazem da pesquisa centro e base de seu estudo, pela busca das respostas aos “porquês” sobre as coisas do mundo onde vivem.
Os projetos didático-escolares:
         - estabelecem forte relação entre o ensino teórico e o prático;
         - valorizam a relação entre ensino e aprendizagem;
         - dão a importância ao trabalho em grupo, como forma de solidariedade;
        - estabelecem relações interdisciplinares em torno de um tema ou de um problema.

Globalização, no ponto de vista escolar, significa somatório de matérias, conjunção de diferentes disciplinas ou ciências, centralizar múltiplos ângulos de um tema para descobrir conexões de saberes que conduzam a um determinado conhecimento “. 

OBSERVAÇÃO
Para saber mais sobre Ensino por Projetos ver o livro do prof. Jorge S Martins recém publicado pela Editora Autores Associados “Projetos de pesquisa. Estratégias de Ensino e Aprendizagem em sala da aula”.