domingo, 3 de junho de 2012

OS ZEPELINS NO BRASIL

Era o ano 1937. Havia poucos meses que eu tinha vindo da França e fiquei como interno fazendo o antigo Curso de Admissão no colégio de Apipucos, num bairro de Recife - Pe.                  
Recordo que certo dia, em plena aula, o professor, atendendo a um aviso da direção, levou-nos correndo para a frente do colégio para vermos algo desconhecido e inédito para nós.
De fato foi a primeira vez que pude ver ao longe, um enorme zepelim, no formato de charuto metálico, muito lento e silencioso, sobrevoando a cidade de Recife em direção à região do Ibura.
Ali ficava atrelado a uma torre e uma escada lhe dava acesso.
  
Sem tirarmos os olhos daquela aeronave, o professor nos explicava que aquilo era um dirigível alemão que vinha da Europa em viagem para o Rio de Janeiro. Transportava apenas 35 pessoas e delas 20 passageiros acomodados numa cabine, ou gôndola, por baixo do longo tubo repleto de balões de gás hidrogênio, que por ser muito leve sustentava-o no ar com muita segurança e era impulsionado por quatro motores traseiros.

                     A HISTÓRIA DOS ZEPELINS NO BRASIL

Em 1933 para atender aos dirigíveis alemães que viriam ao Rio de Janeiro, a Luftschiffbau Zeppelin recebeu um terreno de 80 mil metros quadrados, no subúrbio de Santa Cruz, doados pelo Ministério da Agricultura, próximo á Baía de Sepetiba.  Nele seria construído um aeroporto para dirigíveis, na forma de um imenso hangar com o nome de “Bartolomeu de Gusmão”, em homenagem ao pioneiro balonista brasileiro.

A partir de 1934, os alemães estiveram no Brasil, instalando o hangar para as aeronaves, em Santa Cruz. Tal hangar, pré-fabricado, foi construído pela Guttehoffnungshutte Aktien Geselschaft, na Alemanha veio desmontado por via marítima e foi levantado em Santa Cruz pela Companhia Construtora Nacional, durante 23 meses, empregando 5.500 operários.
O gigantesco hangar, ainda existente e desativado, tem 274 metros de comprimento, 58 metros de altura e 58 metros de largura, e é orientado no sentido norte-sul, pois os dirígíveis entravam pela porta sul, rebocados pela torre de atracação, que era móvel e se deslocava sobre trilhos.



Para dar acesso dos passageiros ao local foi construído um ramal de estrada de ferro ligando este aeroporto ao centro do Rio de Janeiro, num trecho de aproximadamente 35 Km até a Estação Dom Pedro II, atual Central do Brasil.

Em todos os sete anos de operação dos dirigíveis no Brasil, não houve nenhum acidente.

Viajar no Zeppelin era um luxo só acessível a poucas pessoas. A passagem para a Alemanha era muito cara, algo equivalente a 10 mil Euros atuais (2011).
O trecho doméstico entre o Rio e Recife também era caro, e poucos lugares ficavam disponíveis.

                           O Hindenburg em Santa Cruz, 1936
                           vendo-se ao longe o hangar em construção.

                           Planta da gôndola que ficava por baixo                             do Graf  Zeppelin


O Graf Zeppelin oferecia grande conforto. Tinha apenas 35 lugares e a lotação não ultrapassava 20 passageiros.

Os passageiros dispunham de cabines duplas, com beliches, sala de estar e de jantar, e até um salão para fumar, cuidadosamente isolado para não incendiar o perigoso e inflamável gás de sustentação da aeronave, que era o hidrogênio.
                                          Sala de estar e jantar do Graf Zeppelin

Os passageiros eram revistados no embarque, e o porte de isqueiros e fósforos era rigorosamente proibido. Os isqueiros do salão de fumar eram presos às mesas por correntes.

                           Cozinha do Graf Zeppelin

Uma cozinha, cujos equipamentos operavam eletricamente, funcionava quase ininterruptamente, para fornecer a sofisticada alimentação disponível aos passageiros e tripulantes.

A altitude de cruzeiro era de 3 mil pés, mas, quando a aeronave sobrevoava cidades ou a linha litorânea, era comum voar bem mais baixo, entre 300 e 500 pés, para os passageiros puderem apreciar a paisagem.
                                                        Cabine em aprentação noturna


A viagem entre o Rio e a Alemanha durava 5 dias. Dois dias eram necessários para a travessia do Atlântico. A velocidade máxima era de 128 Km/h, muito mais rápida que a velocidade dos navios de passageiros da época, que variava entre 25 e 40 Km/h


A grande maioria dos voos do Graf Zeppelin para Brasil foi comandada por Hugo Eckener que além de piloto, também foi um dos construtores dos dirigíveis alemães e acabou excluído dos últimos voos dos Zeppelins, especialmente os do Hindenburg,  por se opor ao uso das aeronaves como propaganda do regime nazista. Foi substituído por Ernst Lehmann, um aviador pró-nazista que acabou falecendo no desastre do Hindenburg, em maio de 1937.
O Graf Zeppelin realizou 147 voos ao Brasil (sendo 64 transatlânticos) entre os 590 voos da sua longa carreira de 17.177 horas de voo, em nove anos de operação (1928-1937), o que o tornou-o o mais bem sucedido dirigível da história da aviação. Em todos os sete anos de operação dos dirigíveis no Brasil, não houve nenhum acidente.
Foi uma fantástica e impecável carreira para uma aeronave que foi projetada e construída como protótipo, mas que, de tão perfeita, acabou sendo colocada em serviço de viagens
O Graf Zeppelin realizou 147 voos ao Brasil (sendo 64 transatlânticos) entre os 590 voos da sua longa carreira de 17.177 horas de voo, em nove anos de operação (1928-1937), o que o tornou-o o mais bem sucedido dirigível da história da aviação. Em todos os sete anos de operação dos dirigíveis no Brasil, não houve nenhum acidente. 

Em 1936 o dirígivel Graf Zeppelin foi substituído pelo Hindenburg que teve seu voo inaugural, comandado por Lehmann, feito para o Brasil, e decolou para o Rio de Janeiro em 31 março de 1936 trazendo a bordo o grande maestro Heitor Villa-Lobos como um dos passageiros retornando da Europa, em abril desse ano.


Entre os luxos introduzidos no Hindenburg, estava um piano Blüthner, especialmente fabricado em alumínio e que pesava apenas 162 Kg e que, infelizmente foi destruído em bombardeio na Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

Infelizmente, no dia 6 de maio de 1937, o Hindenburg incendiou-se ao atracar na torre em Lakehurst, New Jersey, nos Estados Unidos, com tripulantes e passageiros a bordo. Desses, faleceram 13 passageiros e 22 tripulantes, além de uma pessoa no solo.

Com esse acidente encerrou-se definitivamente a carreira dos dirígiveis Zeppelin, apesar de posteriormente ainda virem a ser usados outros de menor porte durante a 2ª Grande Guerra, mas usando gás hélio que não é inflamável.
Outros dirigíveis estavam em fase de conclusão mas  acabaram  em um museu e foram desmontados em 1940, para aproveitamento do seu alumínio em aviões militares, por ordem do Marechal do Reich Hermann Goering.                                         
Hoje, não passam de uma distante lembrança, de uma era que não volta mais.

                                        O zeppelin na Torre de atracação de Jiquiá, em Recife, Pe.


RELÍQUIAS EXISTENTES.

Passados 75 anos, pouca coisa resta da história dos Zeppelins no Brasil. A maior e mais notável é o hangar de Santa Cruz, ainda intacto e em uso pela Força Aérea Brasileira. Não é o último hangar de Zeppelins ainda existente, como reza a lenda, pois o hangar de Lakehurst nos EEUU ainda permanece igualmente intacto. Em Recife, ainda resta, relativamente intacta, a torre de atracação de Jiquiá.

O Museu Aeroespacial, do Rio de Janeiro, tem em seu acervo uma das hélices de madeira do Graf Zeppelin e alguns pedaços de tela rasgada, resultado de trabalhos de manutenção, e nada mais.


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